sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O final do chá

O cheiro do chá me acordou calmamente. Depois de despertar do cochilo e ter noção de onde estava – o café que se tornara parte da minha casa desde que me mudei e passei a precisar de um lugar com o silêncio antigo de terno e gravata-, olhei para a mesa ao lado e o chá que me acordara já não estava mais lá. Só havia a xícara vazia e a cadeira muito afastada da mesa. Parecia que alguém tinha feito o pedido e o bebeu rapidamente pra depois fugir de lá. Minha vaidade me fez pensar que podia ser eu o motivo da fuga. Pensei no cheiro que não estava mais lá e olhei para o modo que o fio estava enrolado na alça. Meu nariz, então, lembrou-se do cheiro: capim-cidreira. Só podia ser ela. Ela não conseguiu lidar com o nervosismo de ficar tão perto de mim e fugiu.
Quando cheguei a essa conclusão o velho garçom retirou a xícara, arrancou-a de mim. Imediatamente o chamei e pedi um chá. A bebida chegou e me encarou, séria. Do fundo do copo veio até a superfície o rosto dela e em um jogo de espelhos, eu que estava no fundo olhando para cima e ela boiava lânguida na superfície, mexendo os braços.
Ouvi então sua voz, chamando o garçom e quando meus olhos encontraram os dela, vi que ela estava sentada em minha mesa. Com olhos grandes e um sorriso no canto da boca.
Este seria o final perfeito se não tivesse, em algum ponto incerto da história, voltado a dormir e sonhado.