quarta-feira, 13 de julho de 2016

post tenebras lux

na luz silenciosa do primeiro plano na tela, a revolução pela serenidade a cena: cuidadosamente, uma faca corta o pão um martelo quebra uma lâmpada dentro de um pano uma mão coloca a lâmpada quebrada dentro do pão recheado post tenebras lux: depois das trevas, luz e o demônio do meio dia chega, com seu parodoxo: o tédio acompanhado de um intenso sentimento de existir primeiro uma sensação de aprisionamento, seguido de uma fuga através da imaginação e, por fim, de uma grande excitação dá pra ouvir o mal-estar sh, ouve o mal-estar boom só o cinema cura sai comigo? já decorei todas as estações do metrô onde a gente encontra? salto na uruguai - mas não é o país, é a rua - não tem nenhum cinema na tijuca, só no shopping volto pro metrô uruguai, saens pena, são francisco xavier, afonso pena, estácio, praça onze, central, presidente vargas salto, caminho e não tem nada mais triste do que uma obra não acabada (talvez um jovem de direita) volto: uruguaiana, carioca, cinelândia salto e entro no cinema é preciso ensinar o demônio do meio dia (e o jovem) que na sala do odeon não importa se é meio-dia e que num filme o pão também pode cortar a faca.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

diálogo

o que aconteceu? você tá chorando ou tá com o nariz entupido? seu defeito fisiológico de não lacrimejar me irrita profundamente. as pessoas normais falam: foi só um dia horrível, vai passar. você faz tudo ao contrário sempre, coisa de maluco. a gente tem que recomeçar, mil vezes, sem vítima nem corpos, todos os dias. mas você tem esse jeito de dormir com os olhos abertos que confunde tudo. suas frases estranhas e mal construídas não vão funcionar, são como bichos na espreita: tiraria os bigodes como uma prova de amor ou pôr fogo em ti. suas ameaças adolescentes também não vão funcionar (eu gosto dos bigodes). cheiro de queimado no quarto todo, cheiro de cabelo queimado no quarto todo, seu defeito fisiológico de não sentir cheiro me irrita profundamente. 

no coração do aventureiro o que mata é a certeza de que não existem duas pessoas iguais.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

sonho argentina

essa cidade é só uma maquete e eu to cansado na fronteira entre o rio e a margem faz frio e o voo pode ser de cinco minutos, quatro horas, dez dias ou dois segundos acordeão tango brega e bonito coração estreita ou afrouxa, angustia ou alivia, buenos aires também é só uma maquete tóquio é só uma maquete todas as cidades são só uma maquete foda-se subo no alto, espero o vento bom e voo como um dinossauro ou uma lembrança. 

segunda-feira, 11 de abril de 2016

quando os cavalos fogem

nunca gostei do brinde à esperança, então brindo aos nossos verões com os cavalos. mas como se fala com o coração na boca? acho que podemos aprender com os mais velhos e seu tio cantava realmente muito bem. a voz azul marinho e a serenidade verde me davam a certeza de que ele sabia sobre as cores. e sobre a vontade de chorar. em um livro li que o amor é o confronto de dois desejos e em um filme ouvi que sob o manto polido de amabilidade, podemos esconder um desespero selvagem. como os cavalos, os corações nas bocas, a vontade de chorar e as cores, vivemos sem paz.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

coleção de pequenas coisas enormes II

os dentes amolecem e caem, invariavelmente, e não conseguem mais morder. e o monte de rasgos de pequenas coisas enormes arrancadas da vida precisa de espaço: o nascimento da cria dos seus coelhos, o choro na peça “o auto” do irmão, a festa no carnaval no meio dos destroços da perimetral,  o filme do jonas mekas, o beijo de despedida no cara certo, o sonho com a casa de teresópolis e mais trezentos e oitenta e nove rasgos. é carnaval de novo, olhos abertos, é como você diz, “é se deslumbrando que se move, que se acorda.” hoje acabo minha coleção, me despeço de tu.