segunda-feira, 23 de julho de 2012

Teresópolis


Estou em Teresópolis, lugar onde passei minhas férias de criança com a companhia serena de meus avós subo a escada que leva à varanda da casa e já consigo ver o rosto de minha avó na janelinha da porta ela me saúda com um aceno de mão esse retrato eu tirei em minha cabeça todas as vezes que voltava para o Rio no fim das férias e me despedia atrapalhado com as malas dessa vez estou chegando e me aproximo de minha velha chego bem perto e seu rosto não está mais na janela coloco o meu rosto e olho para dentro quando abaixo minha cabeça, a vejo, muito pequena vejo que ela não tinha nem altura para colocar o rosto na janela está curvada, com o cabelo todo branco e um rosto com muitas rugas e nenhum sorriso, está triste olho para dentro da casa e vejo novamente minha vó, ainda menor, deitada em uma cama com o corpo todo enrugado ela tem o cabelo grisalho, mais cinza e seus olhos parecem cansados atrás dela, uma terceira dela, minúscula e amassada, imóvel como uma estátua de pedra, com o cabelo todo cinza, sem brilho e com a boca escancarada, fitando o teto aquelas imagem me incomodam muito e eu saio da varanda, acho que vou embora, mas dou a volta no jardim subo pela outra escada e entro na cozinha vou como uma criança corre em casa até o quarto onde dormia e entro apressado no meio dele, uma corda pendurada no teto e atrás dela, minha avó corro até ela e dou um forte abraço ela está com o seu tamanho normal, batendo no meu queixo seus cabelos negros e bem penteados me afasto minha avó não tinha o cabelo tão negro pergunto “a senhora pintou o cabelo?” me diz que não e vira o rosto, olhando para o fundo do quarto lá estava meu avô, forte e grande ele vai até a minha avó e a abraça me olha e dá um pequeno sorriso com os braços na minha avó, diz “Vamos, Maria” os dois então, começam a subir muito rapidamente a corda até que chegam ao teto e somem corro para os alcançar, mas a corda sobe muito depressa atrás deles e eu não consigo alcançar sinto que nunca mais os verei tristeza a porta se abre, e minha irmã entra por ela trazendo um bebê em seu colo entra meu querido tio, que me introduziu a pintura minha madrinha, fiel companheira nos momentos ruins meu primo com a camisa do Fluminense meu melhor amigo entra pela porta eu vejo que há algo errado Marcelo nunca tinha ido naquela casa, eu não o conhecia quando frequentava aquela casa ele não pode estar ali com a minha família estou sonhando estou sonhando posso querer o que quiser nesse sonho, eu posso escolher ser o que quiser, posso criar meu mundo, ter qualquer coisa o que homens querem? abro a porta do quarto, na mesinha do corredor está um anel de ouro entro de volta para o quarto e dou o anel para meu cunhado que está com a minha irmã ele o coloca no dedo dela e os dois sorriem sinto que estou perdendo o sonho, que posso não conseguir controlar mais grito, alto, subo na mesa e ganho novamente o controle agora sim o que posso querer? lembro de meus avós no telhado e quero os encontrar desesperadamente começo a movimentar meus braços para cima e para baixo, mais forte, mais rápido, não consigo nem mais ver meu braços quando começo a subir, pairo no ar batendo os braços e saio pela janela saio voando o mesmo céu azul de minhas férias, o ganho e sinto o calor do sol lembro mais uma vez de meus avós, me viro e lá embaixo, bem pequenos em cima do telhado, estão os dois abraçados e sorriem.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

O barco não está vindo para o cais







Em qualquer mar existe um horizonte pelo qual o barco passa e não conseguimos mais o ver.