terça-feira, 18 de maio de 2010
Perto de uma última análise
No ônibus, uma senhora cega entrou. Na minha frente, sentou-se e aguardou. Não conseguia me concentrar na leitura, pois meu pensamento já havia tomado a forma e a essência daquela senhora. Assim como muitos acontecimentos, que para a maioria seriam banais, em mim, esse se tornou vital. Um estranho sentimento de aproximação invadiu meus olhos. Percebi, em súbito, a ligação.
Eu também não vejo, enxergo. Desde a juventude não percebo o que esta à mostra. Enxergo o que está escondido, atrás da porta, entre as linhas.
Minha atenção só seria desviada quando dois homens surdos e mudos entraram no exato mesmo ônibus. Influenciado pelo pensamento anterior, comecei a construir a segunda ligação de proximidade. Em toda minha vida, nunca falei de verdade. Nunca pude expor, por isso guardo idéias e opiniões. Abstenho-me, abstraio.
Minha fuga da realidade material chegou ao fim quando meu ponto surgiu na janela. Foi quando meus sentidos me traíram. Desci sem ver a moto ou ouvir sua buzina. E por uma fração de segundos, por milímetros de salvação, não acabei no estado mais próximo que poderia chegar dos conhecidos desconhecidos: cego, surdo e mudo.
Agora vivo a enxergar as conexões dos fatos ordinários.
Eu também não vejo, enxergo. Desde a juventude não percebo o que esta à mostra. Enxergo o que está escondido, atrás da porta, entre as linhas.
Minha atenção só seria desviada quando dois homens surdos e mudos entraram no exato mesmo ônibus. Influenciado pelo pensamento anterior, comecei a construir a segunda ligação de proximidade. Em toda minha vida, nunca falei de verdade. Nunca pude expor, por isso guardo idéias e opiniões. Abstenho-me, abstraio.
Minha fuga da realidade material chegou ao fim quando meu ponto surgiu na janela. Foi quando meus sentidos me traíram. Desci sem ver a moto ou ouvir sua buzina. E por uma fração de segundos, por milímetros de salvação, não acabei no estado mais próximo que poderia chegar dos conhecidos desconhecidos: cego, surdo e mudo.
Agora vivo a enxergar as conexões dos fatos ordinários.
terça-feira, 11 de maio de 2010
Eu te peço
Conte nossas histórias como forma de não deixar a poeira assentar-se sobre elas. Veja parte de minha sombra ao lado dos pés dos outros e deixe como mérito pra eles só o que deixei faltar, pois o resto foi dado por mim primeiro e mereço os créditos. Sinta a voz do vento e veja o cheiro do frio quando estiver na serra, chovendo e aquelas músicas estiverem tocando. Não deixe que queime e se perca tudo. Revele fotos nos seus olhos, de tempos em tempos. Será cada vez mais raro, sim, mas ao menos que reste a longínqua raridade. Em um relance, um ato falho, um déjà vu, o que for. Acenda nossas formas no sonho de um cochilo, mesmo que só ao fundo, compondo a cena. Lembre-se e deixe que um sorriso cresça e tome força pela lembrança. Separe um pedido no fim de uma reza. Eu me vou, mas salvo os cinco sentidos; guardo-me em você.
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