quarta-feira, 3 de abril de 2013

CADARÇOS


estávamos no parque, numa segunda fria. não tinha mais ninguém lá, só aquelas árvores com folhas amarelas. só nós dois. eu te abraçava, mas não com carinho. quer dizer, não só com carinho. se alguém olhasse com atenção veria que seus pés estavam fora do chão. na verdade eu estava segurando seu corpo. puxando-a pra baixo. mas não adiantava, seu corpo cada vez mais se forçava a subir, escorrendo e meus braços fracos já não aguentavam mais. te abraçando já pela cintura comecei a te imaginar indo embora pra sempre, as pernas passando pelos meus braços, as canelas finas, o tênis vermelho. não sei porque pensei nos cadarços roçando nos meus dedos. acho que é porque me lembrei de como você gostava da palavra cadarços. CADARÇOS. palavra engraçada mesmo. acho que é porque o erre ali no meio te faz fazer arr, tipo um leão, ou porque tem um cedilha ao invés de um s, como em arsênio ou varsóvia, seilá. enquanto fiquei pensando nisso seu corpo foi escorregando e só conseguia abraçar seus pés, na altura do meu rosto. meu nariz amassado e a boca torta. e tive uma ideia, te amarrar pelo cadarço. torto e desengonçado, dobrei a perna, tirei meu tênis, dei um nó em nossos cadarços e calcei o meu tênis com a mão. fomos, voando por cima do parque, pra sempre. separados, mas juntos. comigo a seus pés.

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