segunda-feira, 7 de janeiro de 2019
monalisa franco atiradora
era conhecida como sorriso porque só sorria de volta com qualquer um que falasse com ela. o mesmo sorriso de seu interlocutor, de volta. piadas, juras de amor, elogios, papos de elevador, não pronunciava nenhuma palavra. só sorria de volta. como um espelho, o mesmo sorriso do outro, como se seu lábio fosse puxado por um invisível e mini anzol imitão. e viveu bem assim até uma quinta feira na qual leu uma matéria na internet sobre franco atiradores da stasi e suas técnicas de camuflagem. a foto que acompanhava a matéria era de uma praça na qual não se via nenhum atirador. pensou que qualquer foto serviria para ilustrar aquela matéria. súbito, veio à cabeça: a cena de atropelamento na qual o carro conseguiu frear; a superfície calma do mar sob o qual há uma cidade naufragada; e o céu cuja tempestade acabou de se dissipar. decidiu então fazer um breve inventário de imagens de coisas que não estão lá. quis contar a ideia para a irmã, mas depois de chamá-la por ininterruptos cinco minutos, esqueceu o que ia dizer. e riu de si mesmo, por outros ininterruptos cinco minutos. e quando acabou de rir, chorou.
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