terça-feira, 17 de janeiro de 2017

“eu te deixo estar no meu sonho se eu puder estar no seu sonho”, eu disse isso.


yasijo cresceu fazendo perguntas ao ancião sábio da aldeia e ouvindo suas evasivas respostas, como: “você pode me perguntar se eu me importo com as pessoas, mas cada um tem sua própria interpretação para cada uma dessas palavras. “se”, “importar”, “pessoas”. de forma que eu não posso responder a sua pergunta”. a única coisa que o ancião afirmava era que “uma mentira contada o número de vezes suficiente se torna uma verdade”. quando yasijo completou treze anos e chegou a hora de celebrar sua passagem ao mundo adulto (“hora de cair para fora do mundo”, como diziam na aldeia), o ancião sábio se foi. enquanto yasijo comprava seu primeiro terno, o ancião sábio morreu de cansaço. no enterro, yasijo percebeu que no caixão de madeira haviam dois enormes cupins, do tamanho de melancias, com fome de tudo. também percebeu que o terno estava grande demais. a manga tampava parte de seus dedos. percebeu também que carregava uma pedra no bolso. agarrou a pedra e entendeu que se você segura uma pedra por tempo suficiente ela vira uma arma. “If you hold a stone long enough, it becomes a weapon”, bob dylan disse isso. observando o enterro do ancião, yasijo percebeu que não, não cairemos pra fora do mundo; estamos no aberto das coisas. e uma mentira contada, não importa o número de vezes, não se torna uma verdade, ela continua sendo uma mentira. o ancião que é um safado mentiroso.

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