segunda-feira, 12 de abril de 2010

O poema que nunca li

Aquele poema marcou em minha memória um sentimento de êxtase. Estava sentado na sala de estar, meus pais jantando, quando uma mulher recitou um poema de Carlos na televisão. Foram entranhando-se em meus ouvidos as mais significativas palavras que ouvira, pois me trouxeram uma felicidade ímpar. Talvez devido à semelhança entre os conflitos do escritor e os meus. A súbita comoção transbordou-me a razão, e inconscientemente, me esqueci dos versos.
Esqueci-me, também, do tema do poema. Só possuía a lembrança do sentimento ao ouvi-lo.
Saí de casa correndo em busca de minhas palavras. Tomei o ônibus, e os cinco minutos do trajeto pareceram horas. Cheguei à livraria e comprei todos os livros de Drummond que encontrei. Devorei as páginas violentamente. Em vão.
Não encontrei meu tão desejado poema, e desculpe-me, leitor, mas não o encontrei até hoje. Anseio pelo poema, ou pelo menos por seu esquecimento, para livrar-me a angústia. Porém ele se pensa por si, na cabeça impotente de uma mente capaz.
Em alguns dias, penso que talvez o poema não exista. Talvez a televisão estivesse desligada naquele tarde. Esse pode ter sido um plano de minha própria alma sobre meu corpo. Como uma forma de sempre promover um desejo de procura. Uma ânsia de viver em função de encontrar algo.
Penso, em outros dias, que o poema não é de Drummond, mas meu. E a minha sede de ler, é transformada em vontade de escrever, (re)produzir e ordenar as tais palavras na ordem sublime que ouvira em meu devaneio.

2 comentários:

  1. Sinceramente, seu melhor texto até hoje. Esse menino tem futuro!

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  2. Muito bom, cara, gostei pra caramba! Belo texto, o sentimento ao ler Drummond é compartilhado! hahaha
    Abraços!

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